quarta-feira, 19 de agosto de 2015

I


Você já comprimiu a complexidade da vida
em uma bola
e a arremesou ao infinito de uma indagação?

Já se sentiu como um poema
de Álvaro de campos?

Já se imaginou a perguntar o Ricardo Reis,
se o encontrasse.
- Ei, Reis, vira ali para a Luz Interior, responde:
“por que usa essa máscara,
problema de pele ou, por acaso,
tem três olhos?”

 Já se viu olhando fotos do passado,
para logo descobrir nisso uma atividade tediosa,
e procurar urgente um cigarro,
ou alguma coisa mais louca.

Já se encontrou em uma festa,
no seu canto,
querendo silêncio e um quarto vazio,
mas todos à sua volta só tem a oferecer
drogas e sexo vadio.

Uma vez se sentiu fora do lugar,
do tom,
uma vitrola,
um Kichute,
a Divina comédia no alto da estante,
algo que não se alcança.

Riobaldo diz: “viver é muito perigoso”.
Mas não, Urutu Branco, viver é fácil,
perigoso são as pessoas.

Inventamos todos os dias, a vida
enrolada em nossos sonhos, ou planos
como seria se não tivesse sido isso e aquilo
ou nunca tomou porrada, ou levou uma topada
as pedras no meio do caminho.

É impossível ser feliz sozinho?
Sei lá, pergunte ao defunto no caixão.

Dizem que ser feliz é a única condição,
para o bem-estar.

Alguns preferem sexo,
outros religiões,
há algumas exceções,
querem ouro não prata.

Já encarou o espelho,
indagou seu reflexo,
e não tremeu,
não se escondeu sob a barra de nenhum deus.

Então, somos irmãos,
deixamos a felicidade para os sonhadores,
e o amor para os inocentes.